Todavia, Ele conhece bem o caminho por onde passam meus pés; se me colocar à prova, constatará que sairei puro como o ouro refinado”. Jó 23:10
Quando Adão e Eva foram criados por Deus eram livres, donos de um lindo Jardim, governavam sobre toda a terra, tinham a companhia de Deus e dos anjos e só conheciam sentimentos bons de felicidade, contentamento, saúde e paz. (Gên. 1:26-31). No paraíso, existia uma única restrição: “Não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal”. (Gên. 2:17). Passado um tempo, o casal comeu do fruto proibido e esse aparente ‘pequeno’ ato de desobediência trouxe à terra todos os tipos de males que conhecemos, e por fim, a morte. A história bíblica relata que, quando o casal foi descoberto e as sentenças pronunciadas, sendo uma delas a saída para sempre do Jardim, eles “Suplicaram que lhes fosse permitido permanecer, embora reconhecessem terem perdido todo o direito ao abençoado Éden. Prometeram que no futuro renderiam implícita obediência a Deus”¹. Os escritos não nos relatam o quanto suplicaram e o que mais prometeram, mas podemos imaginar o quanto eles estavam com medo da realidade que enfrentariam e, disposto a fazer qualquer coisa para evitar o futuro sombrio.
Passado milênios da queda, quando olhamos o ser humano hoje, frente suas lutas, dificuldades e tristezas, será que ele age muito diferente? Será que continua tentando se esquivar das consequências dos seus pecados? Ainda tem medo de trilhar caminhos desconhecidos e inseguros por onde caiu ao pegar um atalho? Continua olhando as consequências de seus erros como algo de todo pavoroso, ruim, sem proveito, fonte de aflição e tristeza? É fato que, os resultados do pecado são tristes e levam à morte eterna (Romanos 6:23), mas será que é possível existir algo de bom em meio a tanta coisa ruim? É possível colhermos alguma felicidade em meio ao sofrimento que nos atingiu? Vamos refletir e descobrir juntas, focando em um aspecto muito interessante com o qual lidamos durante toda a existência: os relacionamentos interpessoais. Entendemos relacionamento interpessoal, como vínculos existentes entre uma ou mais pessoas, em diferentes contextos sociais e com diferentes níveis de envolvimento. Em resumo, relacionamentos estabelecidos entre você e outros indivíduos.
Quando Deus criou homem e mulher, não existiam conflitos nos relacionamentos interpessoais. Adão e Eva se compreendiam, entendiam a Deus, conversavam com os anjos e todos desfrutavam de harmonia e paz. Mas assim que eles pecaram, ocorreu uma mudança significativa e profunda. Primeiro, o homem se distanciou de Deus, deixando de ser amigo do seu Criador, como afirma o profeta Isaías: “Mas os vossos pecados fazem separação entre vós e o vosso Deus” (59:2). A prova disso, é que eles se esconderam ao ouvir a voz de Deus chamando por eles (Gên. 3:10). Estava quebrado o vínculo entre humanidade e divindade, a amizade acabou e se tornaram inimigos em sua essência.
Outro relacionamento se tornou extremamente frágil e conflituoso: o de Adão e Eva. Quando ela ofereceu o fruto proibido ao marido, ele refletiu que “Devia separar-se daquela cuja companhia ele tanto amara. Como podia suportar isso? Seu amor por Eva era muito grande. Em completo desencorajamento, resolveu partilhar a sua sorte. Raciocinou que Eva era uma parte dele, se ela devia morrer, com ela morreria ele, pois não podia suportar a ideia da separação”². Adão amava tanto a Eva, que preferia morrer a deixá-la. Entretanto, quando Deus perguntou se haviam comido do fruto proibido, ele prontamente respondeu: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi”. (Gên. 3:12) Onde foi parar todo o amor de Adão pela esposa, ao apontá-la perante Deus como a culpada pela transgressão? O desejo de safar-se e o medo da punição o tornou egocêntrico e egoísta, e o amor foi esquecido.
Esse comportamento foi passado de geração a geração, e todos os seres humanos tornaram-se egoístas em sua natureza, estabelecendo relações cada vez mais conflituosas com Deus e com seus pares. Entretanto, Deus arranjou um jeito muito especial de ‘consertar’ esse problema ao usar os próprios conflitos para nos ensinar e nos transformar carinhosamente. Consideremos o que o apóstolo diz em Romanos 8: 28: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam”. Esse pensamento deve sempre vir à memória quando entramos em conflito com as pessoas ao nosso redor. Uma vez que estejamos fazendo a nossa parte de trilhar o caminho do bem, entregar nossas vidas nas mãos de Deus e amá-Lo verdadeiramente cada dia, restabelecendo nosso vínculo com Ele, podemos ter certeza: Deus SEMPRE quer o melhor para nós, seja nas amizades, em namoro, no casamento, com os irmãos da igreja e em qualquer outra situação na vida. Mas não significa que, por isso, Ele nos poupará de conflitos ou não seremos frustrados por ninguém, ou ainda que todos à nossa volta nos amarão, e jamais ficaremos indignados com nossos pais e líderes. Muito pelo contrário: significa que Ele permitirá que você passe por situações difíceis e que tenha conflitos com as pessoas à sua volta, para que possa ser moldado.
Opa, como assim? Usemos como exemplo o trabalho de um carpinteiro. Você sabe como funciona? Com uma ferramenta cortante, chamada talhadeira, ele pega a madeira e vai tirando lascas e pedaços, moldando o tronco, até que ele se torne uma linda peça trabalhada. Pois é exatamente isso que Deus faz conosco. Uma vez que o pecado nos tornou egoístas, mesquinhos e não sabemos viver harmonicamente, Cristo em Seu grande amor, usa as dificuldades e conflitos para nos tornar pessoas melhores. Entretanto, esse trabalho, na maioria das vezes, é doloroso, demorado, e difícil, porque estamos muito apegados aos nossos desejos egoístas. Ainda assim, o Pai amado, não desiste de nós e muitas vezes, para cumprir Seus propósitos em nossa vida, Ele permite que pessoas com características que mais nos incomodam, cruzem nosso caminho e através delas, desenvolvamos o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (Gál. 5:22). O plano de Deus é que, conforme formos exercendo essas virtudes, nossos defeitos sejam inibidos, percam força e vamos sendo moldados para a santidade. Ele “[…] faz assim conosco. Esculpe a imagem de Cristo em nós. O Espírito Santo segura o martelo, a Palavra de Deus. A talhadeira representa tudo que Deus usa para nos lapidar, polir e lixar. Às vezes, o processo dói! Mas o sofrimento, a dor, a mudança, fazem parte do processo de nos conformar à imagem de Cristo. Ele expõe nosso coração e nos leva à dependência de Jesus. Cada batida do martelo, cada lasca do pecado que cai, liberta mais do esplendor da glória de Cristo em nós”³.
Sim, Deus quer usar nossos relacionamentos, conflituosos desde a queda, para nos moldar. E sabe qual é a melhor notícia ainda? Que é muito mais fácil mudarmos para o bem dos que amamos do que se fosse de outra maneira. Deus escolheu usar o amor para amenizar nossas aflições e tristezas e, com paciência e bondade tirar de nós aquilo que nos afasta dEle e um dos outros.
Convidamos você hoje, a olhar diferente para os conflitos interpessoais em sua vida. Tente ver além do que está posto. Se você tem algum relacionamento desgastado por problemas e não quer mais continuar tentando consertar, coloque nas mãos de Deus. Se você se desentendeu com um amigo ou não gosta de alguma pessoa, entregue esses sentimentos a Deus e busque olhar ao outro sem julgamento, sem acepções, aprendendo a ser tolerante. Quando você for repreendido pelos teus pais ou pessoas mais velhas, prenda a respiração e lembre-se que Deus prometeu dar vida longa aos que honram os pais e ouvem as palavras dos sábios.
Deus tem o sonho de nos encontrar no céu, mas não como somos hoje. Ele espera nos encontrar perfeitos, sem mancha nem mácula, sem defeito algum. E para cumprir Seu propósito, Ele vai e está a nos talhar e polir. Se estivermos dispostos a ser moldados, acredite, será mais fácil. E quando ainda parecer difícil, lembre-se que sofrimento algum poderá se comparar à alegria de nos encontrarmos perfeitos na presença do Deus Todo-Poderoso, quando Ele vier com poder e grande glória, e ouvirmos ser declarado a nosso respeito “Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap. 14:12).
¹ WHITE, E.G. História da Redenção, p. 40.
² WHITE, E.G. História da Redenção, p. 36.
³ MENDES, A.; MERKH, D. O namoro e o noivado que Deus sempre quis, p. 99