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Princípio ou tradição: banho no sábado

Lembro uma vez que estava visitando uma conhecida e ela conversava com uma amiga, ansiosa por uma solução. Era sexta-feira, ela havia menstruado e sabia que sábado seria um dia tenso…. Estava muito preocupada em como faria caso precisasse se lavar. Sua amiga, solidária, estava quebrando a cabeça para achar uma solução e, em um processo de eliminação de possibilidades, disse: “Ah, e não dá pra tomar banho, porque amanhã é sábado”. Se você é uma reformista brasileira, garanto que já ouviu isso pelo menos uma vez na vida!

Acontece que aqui no Brasil e em alguns outros países, tomar banho no sábado é uma quebra do quarto mandamento, o qual nos lembra da santidade do sétimo dia da semana e como ele deve ser guardado. O mandamento em questão, nos diz ainda, que seis dias da semana são para nós, “mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. ” Êxodo 20:10. Portanto, nele descansamos.

Há décadas, alguns irmãos sinceros, buscando de todo coração honrar o Criador nesse dia até nos mínimos detalhes, interpretaram de forma equivocada um texto da irmã White e instituíram essa questão. Os pastores daquela época e alguns até os dias de hoje, continuam apoiando essa posição baseados no texto que, supostamente, proíbe o banho no sábado. Vários irmãos, alguns extremamente respeitosos para com as autoridades eclesiásticas, e outros infelizmente acomodados, adotaram a palavra dos pastores como máxima e não se preocuparam em fazer suas próprias pesquisas. E foi assim que surgiu entre nós, a proibição de tomar banho no dia de sábado.

É interessante lembrar que o apóstolo Paulo, o grande orador e instrumento de Deus, elogiou extensivamente o comportamento dos irmãos Bereanos, aqueles que ouviam as palavras de Paulo e faziam questão de comparar a palavra dele às Escrituras. Ora, ora, se os Bereanos foram louvados por verificar a veracidade do sermão do apóstolo, não deveríamos nós fazer questão de comparar as palavras de nossos pastores com a do grande Pastor? Claro que sim! E foi por isso que, colocando de lado vários pensamentos, me dispus a pesquisar esse tema.

Fui diretamente à fonte, ou seja, ao site dos escritos da irmã Ellen G. White e digitei a palavra “banho”. Para a minha surpresa apareceram trinta referências. Olhei uma por uma, e sabe de uma coisa? Desses trinta textos, apenas dois tinham relação com o sábado, os demais descreviam os benefícios do banho (você sabia que o banho, quente ou frio, é um ótimo calmante? E sabia que ele ajuda na digestão? Amei saber disso!) ou o incluíam em tratamentos naturais. E os dois únicos que citavam o sábado também, não falavam explicitamente que não pode tomar banho aos sábado e sim que é para tomá-lo na sexta-feira, como você pode ler abaixo:

“Na sexta-feira, deverá ficar terminada a preparação para o sábado. Tenhamos o cuidado de pôr toda a roupa em ordem e deixar cozido o que houver para cozer. Escovar os sapatos e tomar o banho. É possível deixar tudo preparado, caso se tome isso como regra”. ¹

Uma coisa muito importante que aprendi na Escola Missionária, é que quando desejamos entender corretamente a mensagem de um texto, é necessário contextualizá-lo, e nesse caso, é de importância vital que vejamos os textos em sua amplitude! Então, vamos lá.

Para começar, esse texto foi escrito no século 19 por uma americana, em inglês. Então, primeiro vale ressaltar que na língua inglesa existem duas palavras para designar “banho”. A primeira é “bath” e a segunda é “shower”. Bath se refere ao que, com frequência, vemos em filmes, quando os personagens enchem a banheira, fazem espuma com o sabão e ficam de molho lá por um tempão. Sério, é comum ficar de 15 – 30 minutos de boas. Já a palavra shower é o que temos bem mais familiaridade, que é o banho de chuveiro, ou ducha.

Quando voltamos ao original, podemos notar que ela usa a palavra bath, o que já nos ajuda a entender que ela não se referia ao banho rápido, e sim, a quase um spa no dia de sábado. E pra ser sincera, a palavra shower  nem era usada com essa conotação no tempo dela, já que os chuveiros comuns só começaram a ser acessíveis para maioria das pessoas em 1930, décadas após a morte da profetisa.

E já que entramos na história, vamos deixar claro que tomar um “bath” não era tarefa fácil. Pra começar, só se lavava dessa maneira com constância, quem fosse rico e tivesse servos para fazer o serviço, se não, era uma vez a cada duas semanas. Se bem que já ouvi relatos de que, quando chegava o inverno, a higiene era feita só com toalhinha umedecida. Mas quando se ia tomar banho, era preciso locomover a banheira (aquela que conhecemos bem, ou então uma bacia de quadril, menor e mais barata) para a cozinha, que é onde ficava a lareira. Lembrando que a peça ainda era feita de madeira, então pensa num negócio chato de mover e pesado. Depois, tinha que ir até o poço e trazer quantos baldes de água fossem necessários para encher o recipiente. É claro que essa água toda deveria ser esquentada, e só depois de todo esse trabalho é que a pessoa poderia tomar o banho. Sem contar que, às vezes, era necessário reaquecer a água. Não sei você, mas eu, só de imaginar todo esse trabalho, já me cansei!

Além do mais, as pessoas não tinham costume de fazer isso com frequência. Deus teve até que inspirar Ellen White a escrever incentivando os irmão a tomarem, no mínimo, dois banhos por semana! Imagine como era a situação!

Agora dentro de todo esse contexto, me diz: qual era a necessidade de deixar para fazer todo esse processo no sábado? Nenhuma. Se a pessoa não fazia durante toda a semana, porque inventar de fazer logo no sábado? Completamente desnecessário.

Mas acontece que os séculos se passaram e as coisas mudaram. Agora temos água encanada e aquecida, portanto, se precisamos tomar um banho, com certeza não dá muito trabalho ligar o chuveiro. Então, pode tomar banho no sábado, sim. Mas atenção! Se você não tem costume de tomar banho pela manhã, não vá inventar de tomar banho de manhã só no sábado. E o banho ao qual me refiro, não é aquele em que raspa as pernas, faz esfoliação e hidratação. Não.

Me refiro aquela ducha necessária para tirar o suor e o mal cheiro. Infelizmente, já tive o desprazer de ter que ficar perto de moças que apesar de serem um doce de pessoa, estavam com aquele cheirinho de mal passado… Sinceramente, isso ofusca qualquer personalidade agradável e beleza! (Fica a dica… moças e rapazes…) O fato é que, não é difícil acordar 10 minutos mais cedo para tomar uma ducha e ficar limpinha e cheirosa para visitar a casa do nosso Pai, especialmente se você mora em lugares quentes, porque aí o banho se torna imprescindível.

Sei que em alguns lugares, tomar banho no sábado de manhã é simplesmente escandaloso, e que assim que souberem que você o fez te julgarão como pecadora da pior espécie, mas tenha paciência com eles, pois não fazem por maldade e sim por obediência a interpretações errôneas. Seja gentil e não os destrate, e se quiser, mostre esse artigo para eles poderem entender melhor. Enquanto isso, aproveite cada gota do chuveiro, pois todas elas vêm até você em um rosquear de chaves.

¹ WHITE, Ellen G., Conselhos para a Igreja, p.268.

7 comentários em “Princípio ou tradição: banho no sábado”

  1. Marcia da Silva Vicente

    Bem explicado. Sempre tinha um senso de culpa de tomar banho no sábado um dia que deve ser reverenciado não só na prática como também no Espírito.

    1. EVELYN GESSNER

      Obrigada, eu fico muito feliz de poder ter te ajudado! Inclusive, tem outras situações que você gostaria de uma explicação? Quem sabe eu não possa te ajudar?

      Beijos, Evelyn

  2. Kelly Críscylla

    Uau, amei Evy. Eu sempre ficava na dúvida porque como vc nem explicou esse costume continua bem vivo nos dias de hoje. Mas depois desse artigo, sinto-me bem mais tranquila ???? thank you so much.

    1. EVELYN GESSNER

      Oii Kelly! Fico feliz que esse artigo tenha te ajudado a entender melhor essa situação. Agora quando surgir o assunto, você já sabe o que recomendar! Rsrs You’re welcome sweetheart. 🙂

  3. Dorval Fagundes Furtado Junior

    Evelyn, eu gostei muito do texto. Está leve, escrito numa linguagem contemporânea, de fácil leitura, e com uma estrutura argumentativa muito bem montada. Qualquer criança ou adolescente alfabetizado poderia lê-lo sem dificuldades, e isso é ótimo. É a essência da linguagem jornalística. Congratulations!

    1. EVELYN GESSNER

      Oii Dorval, muito obrigado pelo seu comentário!!
      Quando estava escrevendo esse texto procurei faze-lo com respeito, leveza e lógica e fico muito feliz em ter conseguido passar isso para as leitoras. Espero que você volte mais vezes e traga companhia. rsrs

    2. Parabéns, Deus te abençoe por essa explicação!
      Precisamos de jovens assim, que busquem a verdade, esclareçam os textos de Ellen white e não critiquem.

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