A casa dos sonhos - Um testemunho pessoal

Uma das minhas mais longas e marcantes esperas foi por uma casa.

Tínhamos ido para a Guiana Francesa para sermos missionários voluntários; meu marido, eu e nossa filha de quatro anos, e no meu entender Deus encaminharia tudo, porque Ele é o Deus todo-poderoso e nada é difícil para Ele. Eu tinha certeza de que seria fácil conseguir a documentação, casa e tudo mais, mas não foi.

Ao chegar lá ficamos hospedados, de favor, por dez dias, procurando casa para alugar. Nada. Ninguém queria alugar uma casa para pessoas com visto de turista. No décimo dia meu marido estava ao telefone público tentando saber notícias de mais uma casa (que não deu certo), quando um brasileiro que estava na fila, esperando para ligar, disse que ele sabia de uma pessoa que com certeza alugaria para nós.

Era uma casa, num bairro bom, que o dono tinha subdividido e alugava cada cômodo pelo preço de uma boa casa. Achamos exorbitante, mas era a única alternativa. Então mudamos.

A maioria das pessoas que morava lá, dividiam o banheiro e a cozinha. Higiene e limpeza não eram coisas cotidianas, por isso, muitas vezes me senti rica e agradeci ao nosso Deus por aquele quartinho com banheiro minúsculo onde não cabia muita coisa, mas era só nosso. Toda noite após passar um pano no chão, forrávamos com papelão e colocávamos os edredons em cima para dormir. De dia tudo era dobrado e esse era o espaço que sobrava para andar em casa.

Logo em seguida descobrimos que eu estava grávida. Imagina só, mais uma pessoinha para ocupar aquele espaço! E eu pensava comigo, “se o Senhor permitiu, é porque logo sai a documentação e então vamos poder alugar uma casa de verdade.”

Os dias viraram meses e meses viraram anos e nada de conseguirmos um lugar melhor.

Não por falta de casa, pois bem perto de onde morávamos tinha um sobrado lindo, desocupado, mas o dono preferia deixar vazio a alugar para nós. Parece-me que todas as casas vazias acenavam para mim e chamavam meu nome, mas nada dava certo.

Para mim, casa sempre foi uma coisa maravilhosa! Acostumada a mudar desde pequenina, achava o máximo chegar numa casa nova, escolher onde as coisas iriam ficar, arrumar tudo e se sentir em casa, mesmo num lugar que ainda era estranho.

Como filha de pastor, era comum sair com meus pais para fazer visitas. Lembro das pessoas comentando que eu era muito quietinha, mas mal sabiam elas que enquanto conversavam, na minha imaginação eu já tinha transformado toda a casa delas, mudando o que eu não tinha gostado, ou simplesmente trazendo meus móveis para a casa delas. Nos meus devaneios poderia partir em viagens divertidas ou criar histórias mirabolantes, mas casa era a minha paixão!

Então você pode imaginar como eu estava me sentindo naquele quartinho.

Quinze dias antes do nosso filho nascer mudamos para o “novo” cômodo da frente. Um metro maior, com uma cozinha minúscula. Pudemos até instalar uma máquina de lavar roupas. Foi uma bênção!

Senti-me um pouco mais à vontade, mas eu esperava pelo dia em que estaria numa casa espaçosa, afinal, esse quarto não era só a nossa casa, era também igreja, escola de francês, creche, padaria etc.

Enquanto esperava, media cada centímetro, mudava as coisas de lugar em busca de mais espaço. Limpava os corredores e a frente do prédio, catando o lixo—latinhas e garrafas—que os outros moradores deixavam jogado, na tentativa de deixar um ambiente mais gostoso. Adquiri o péssimo hábito de dormir tarde, porque a noite era a única hora em que eu podia estar “sozinha”. Ficava lendo revista, fazendo um “spa”, ou chorando. É, quantas vezes chorei angustiada implorando a Deus que mudasse nossa situação. O cenário, naquela época, não mudou. Mas eu acordava melhor, com as forças e a paciência restauradas. Surpreendentemente feliz! Deus é Maravilhoso!

Até hoje não sei ao certo porque foi assim, aparentemente uma vã espera por quatro longos anos, mas sinto que tudo isso contribuiu para o nosso bem.

Todas as minhas outras casas foram ótimas, depois daquele quartinho. Mas a espera mais preciosa é por aquela casa “no alto do monte, com flores lindas por todo jardim…” a perfeita, construída pelo meu Pai especialmente para mim.