A menina, os salgueiros, e o Deus do impossível—um testemunho pessoal

Quando eu tinha oito anos, minhas melhores amigas tinham uma lagoa aonde passávamos as tardes durante os verões texanos.

Eu gostava bastante da casa delas, mas os salgueiros ao lado da água me encantavam. Em algum momento durante aqueles verões, um sonho se aninhava em meu coração - algum dia, gostaria de viver em um lugar onde os salgueiros fazem cócegas na água.

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Depois que nos casamos, eu e o Vinicius nos mudamos para um apartamento no centro de Abbotsford — a poucos minutos a pé de tudo e a uma hora de carro do Granville Market (Mercadão Municipal), em Vancouver. Uma vez fomos lá passear, e eu parei na frente dos salgueiros ao lado do riacho, observando as folhas roçando a grama enquanto uma brisa passava pelos galhos e alimentava uma chama adormecida em meu coração. 

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Por quatro vezes tentamos vender nosso apartamento e comprar uma casa, durante nossos cinco anos de casamento. Nessa última frase, resumi meses de trepidação, esperança e humilhante decepção. A cada tentativa juntávamos pilhas de documentos, preparávamos nosso apartamento para visitas e nos sentávamos na frente de financiadores do banco somente para ouvir que não tínhamos o necessário para entrar no impossível mercado imobiliário da Colúmbia Britânica. 

Viajamos para o interior da província em temperaturas de -22ºC, estudando outras possibilidades. Uma venda do apartamento fracassou na última hora e tivemos que abandonar a ideia de tantos lugares que pareciam perfeitos. 

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No verão, íamos fazer trilhas no Chilliwack Lake Provincial Park (parque estadual), e outro desejo abraçou meu coração. Propriedades se estendiam da beira da estrada até o sopé das montanhas. Não seria aconchegante morar em uma casa cercada de árvores? Como Sara, esposa de Abraão, eu ria comigo mesma. 

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Em setembro de 2021, postamos o anúncio do nosso apartamento mais uma vez. Cinco dias depois, aceitamos uma oferta. Semanas de limbo até a conclusão da venda estavam pela frente. E se o negócio fracassasse? De novo?

E para onde iríamos? Casas geminadas estavam sendo vendidas sem o comprador olhar antes, por dezenas de milhares de dólares acima do preço de tabela. As poucas casas em nossa faixa de preço estavam no centro da cidade, e ainda eram velhas, sendo vendidas por centenas de milhares de dólares acima do valor anunciado. 

Um local fora da cidade que sonhávamos para o nosso futuro? Impossível.

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Nessas alturas, estávamos olhando casas apenas “por diversão", sem esperanças reais. 

Numa tarde, entramos na caminhonete do nosso corretor para visitar quatro lugares. O último ficava em um bairro saindo da estrada que leva para nossas trilhas - uma casinha, estufas, hortas, abelhas, galinhas, vista das montanhas, e o som do rio correndo no final da rua.

Era lindo e estava dentro do nosso orçamento! Mas não nos enganamos, os preços não significavam nada. Outra casa que vimos naquela tarde foi anunciada por um preço dentro da nossa faixa, mas assim que começou a aceitar ofertas, nove apareceram. Foi vendida por $101.000 dólares a mais, sem objeções (sem inspeção e independente da condição). 

Este lugar lindo e perfeito? Seria fisgado num piscar dos olhos. A venda do nosso apartamento ainda nem havia sido concluída! Pff, pode esquecer!

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Não esquecemos. Assim que a venda do apartamento foi finalizada, fizemos uma oferta na chácarazinha. E pior – abaixo do preço pedido. Cruzamos os dedos e esperamos. 

A oferta só era válida até as 23h e ficamos acordados esperando. Mesmo que fosse uma rejeição, mas pelo menos saberíamos. 23:05h e nada.

Na manhã seguinte nosso corretor ligou. Bom - eu disse rindo - nenhuma resposta é uma clara rejeição, né? 
- Hãn? Não! Eles fizeram uma contraproposta, disse ele. Os documentos chegaram tarde e eu já tinha ido dormir. 

As semanas seguintes foram como uma montanha-russa. Fizemos uma “contra contraproposta” e eles aceitaram. Nosso financiamento foi aprovado, depois negado, aprovado, e negado de novo... em que direção cairia o dado?

A proprietária nos deu um tour pelo sítio. Fomos embora e o nosso corretor ligou para avisar que, após o tour, a dona estava repensando a venda.  

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Mas o milagre aconteceu antes - e aconteceu em mim. 

Eu sabia que Deus estava liderando esse processo, mas as três semanas entre a nossa primeira oferta e a conclusão foi um teste de fé. Poderia eu ainda ter paz, independentemente do resultado? 

A tranquilidade que invadiu minha alma foi o verdadeiro milagre. Sou uma pessoa ansiosa, agitada por natureza. Mas eu simplesmente sabia. Eu disse ao Vinícius que tinha o mesmo sentimento que tive em relação a ele com treze anos de idade. Que não importasse o que acontecesse no meio-tempo, no final, o que era para ser, seria. 

Dessa vez, teve muito “meio-tempo”, e ainda não chegamos ao fim. O financiamento foi aprovado. Assinamos os papéis no advogado ontem e a compra será concluída na segunda-feira. Mas ainda não temos as chaves em mãos. 

Passamos por muitos momentos de ansiedade e tensão durante esse período. Mas a paz reinou. E essa é a maior maravilha de todas - a aceitação de que, se não for este lugar, será algo melhor.