Casar não é uma decisão simples e precisa ser tratada com seriedade. Um casal em que as duas pessoas nasceram e cresceram dentro do mesmo contexto cultural, tem lá suas complicações e é normal que os dois tenham histórias de vida completamente diferentes, mesmo tendo nascido no mesmo país. Mas, quando pessoas de continentes diferentes se encontram, a história ganha um pouco mais de detalhes interessantes, surpresas e desafios. Mas não é nada que um grande amor não possa enfrentar, que um casal decidido, com ambos comprometidos e focados não possa resolver, e que tenha o detalhe essencial que você já sabe: Deus, o autor do amor.
Eu, brasileira, aceitei ele francês, para amá-lo e respeitá-lo até que a morte nos separe. No dia do sim, sabíamos bem o que estávamos fazendo. Assinamos o papel e nos tornamos um. Tenho a alegria de dizer que somos felizes, mas não foi sorte. Muitas vezes ouvimos que alguns casais tiveram sorte e outros não, mas na verdade, manter a chama do amor viva com o passar dos anos é um trabalho constante. Você tem que trabalhar em si mesmo, se construir e se tornar melhor para servir o outro da melhor maneira. Quando se ama, esses esforços não são sentidos como um fardo, pelo contrário, são prazerosos e recompensadores.
Os pais do meu esposo Stuart, mudaram da ilha francesa “Guadalupe” para a França e ele nasceu em Paris, mas mesmo crescendo lá, todo ano eles visitavam a terra natal. Desta maneira, ele manteve contato com a cultura dos pais e assimilou um pouco de tudo, das raízes afrodescendentes, à vida Parisiense.
Eu nasci em São Paulo e aos três anos nos mudamos para a Venezuela, voltando ao Brasil já adolescente. O fato de crescer em outro país teve uma grande influência na minha maneira de ser, falar e agir, mas absorvi também da bagagem cultural dos meus pais, nossa brasilidade.
Quando conheci o Stuart, eu morava nos Estados Unidos. Há anos trocávamos e-mails esporadicamente, conversando de coisas espirituais, algo que sempre admirei nele, porque sempre falava de Deus e dos planos dEle para aqueles que O amam. Ele gostava de fotografia, e eu também era apaixonada por esse assunto, então conversa não faltava.
Um dia comprou uma lente de câmera digital pela internet, mandou no meu endereço, e eu enviei pra ele, porque ficava mais barato assim. Estava sempre encontrando maneiras de mantermos contato. No ano seguinte, no meu aniversário, mandou um áudio cantando parabéns e me lembro de ter mostrado para várias pessoas como meu amigo francês cantava. Agora sabia que, como eu, ele também gostava de cantar. E assim de vez em quando nos falávamos.
Ele conheceu uma família da nossa igreja muito simpática e querida, e foi passar uns dias na casa deles pra conhecer os EUA, aproveitando a oportunidade também pra me ver, mas disso eu não sabia. De fato, quando me falavam sobre ele ou perguntavam sobre nós, dizia: “somos apenas bons amigos, nada vai acontecer”. Quando ele chegou a Sacramento, Califórnia, fui com meus pais jantar na casa dos amigos onde ele ficara hospedado e assim nos vimos pela primeira vez. Fui completamente despreocupada e, apesar de estarem comentando que acabaríamos namorando, tinha certeza que só provaria a todos o contrário. Chegando lá, o primeiro olhar, o primeiro sorriso, a primeira conversa, mudou toda minha perspectiva sobre aquela amizade, e tive que aceitar que estava errada sobre tudo e sobre ele. Nunca vou esquecer aquela primeira impressão.
Começamos a nos ver e conversar todos os dias e não demorou a ele me pedir em namoro, e claro, aceitei. Lembro-me de ter perguntando: “você não acha que está indo muito rápido?”, ao que ele respondeu: “pra que perder tempo? Gosto de você”. E foi assim que começamos nossa história. Começamos a nos conhecer melhor, porque até então eu não sabia muito sobre ele, mas sabia que era um homem de Deus e isso era importante pra mim. Ambos tínhamos saído de relacionamentos e ver como Deus guiou cada passo no nosso caminho foi lindo. Ele nos conduziu em direção à nossa felicidade.
Deus faz tudo bem, nós é que entramos na frente e fazemos tudo errado, interrompendo os planos dEle.
Quando nos conhecemos, tudo fez sentido. Ele contou que, há dez anos me admirava, desde quando vira minha foto com uma amiga em comum e falou: “vou casar com essa garota”. Mas depois, pensando que eu não daria a mínima pra ele, guardou esse pensamento em algum lugar, onde ficou esquecido durante anos. Acredito que Deus nos abençoou e permitiu que tudo acontecesse na hora certa, porque depois que ele se declarou, eu disse: “vamos orar?” e ele me lembra até hoje, que esse foi o sinal de Deus que ele esperava pra saber que estava tomando a decisão certa.
Não foi fácil o relacionamento de três anos à distância, mas continuamos firmes em nossa decisão, sabendo que agora que estávamos colocando a Deus em primeiro lugar, esse relacionamento não seria como os outros.
Ficamos noivos e o processo de planejamento do casamento foi cheio de reviravoltas, tentando conciliar o que a família dele e a minha queriam, e o que nós queríamos, sendo que seria um casamento de brasileiros e franceses, nos Estados Unidos! Imagine os detalhes! kkk. Mas ao final, deu tudo certo e depois de casados me mudei para a França e lá começaram muitas descobertas.
Vimos como era diferente nossa maneira de viver, preparar comida e até de guardar as coisas na geladeira. Nossa primeira discussão foi sobre isso: um achava normal os tomates ficarem na geladeira, enquanto o outro achava um absurdo; ou que colocar cebola no xarope contra a gripe era bom, enquanto o outro nunca tinha visto isso na vida. Eu passava as camisas e pendurava no cabide, já ele estava acostumado a que fossem dobradas depois; demorei a me acostumar com a ideia, e hoje ele aceita minha maneira de fazer. Mas sempre que posso, busco agrada-lo, porque não se trata de estar certo ou errado, são apenas formas diferentes de ver as coisas. O amor e o respeito conseguem dar solução a esses pequenos conflitos e conversando, sempre encontramos maneira de nos entendermos. Atualmente moramos na Suíça com nosso gatinho Tito.
Não importa de onde você vem se chega com sinceridade e um desejo profundo no coração, de fazer o outro feliz.
Relacionamentos multiculturais dão certo. Em nosso caso, somos os dois afrodescendentes, mas mesmo que o casal seja interracial, a menos que haja incompatibilidade de gênios e que os dois realmente não se entendam, não tem porque não dar certo. Com muita comunicação, compreensão, paciência e respeito pelo outro, tudo é possível.
Sempre tem alguém aqui ou ali com uma opinião sobre o seu relacionamento, mas quando Deus for o seu maior guia, tomar a decisão de unir sua vida a alguém seja quem for, não será difícil. O verdadeiro amor sempre vence.
Foto: Isabel Ollinger