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Ainda que eu andasse pelo vale - Combatendo o câncer de mama

Descoberta

Era a primavera de 2017 e estava prestes a me graduar como bacharel em Sociologia, pela Universidade Estadual da Califórnia. Estudei por quatro longos anos e trabalhei em dois empregos para conseguir sobreviver e cuidar do meu filho. Minha avó, Marluce, veio do Brasil para assistir minha colação de grau e estava em minha casa no dia em que eu descobri um gânglio no meu seio esquerdo. Fazia poucas semanas que eu havia concluído os estudos, e estava tomando banho quando, de repente, um frasco de xampu caiu do suporte caiu no meu seio, exatamente na área em que o tumor estava localizado.

Quando eu coloquei a mão para mitigar a dor, notei um caroço do tamanho de um limão médio. Ao sair do banho comentei com minha avó que havia encontrado um caroço enorme na mama esquerda. Ela disse: “não ignore isso, pois a sua bisavó morreu de câncer de mama”. Apesar de haver concluído meus estudos eu ainda tinha dois empregos. Depois de passar 8 horas em uma clínica de saúde mental, eu saía daquele lugar e ia direto para uma pizzaria onde eu trabalhava mais umas 4 horas entregando pizza durante o período do jantar.

Negação

Meu primeiro impulso foi ignorar. Eu havia trabalhado muito duro pelo meu diploma e não queria ponderar a possibilidade de todo meu esforço ter sido em vão. Meu filho e eu só temos um ao outro aqui nesse lugar distante. Eu não conseguia imaginar a possibilidade de deixá-lo sozinho aqui nesse mundo complicado.

O estresse só aumentou quando o prédio onde morávamos aumentou nosso aluguel e eu tive que trabalhar ainda mais horas para conseguirmos sobreviver. Encontrei o tumor no dia 10 de julho, mas não fui ao médico até novembro, quando nosso contrato de aluguel já havia finalmente terminado e pudemos nos mudar.

Pedi a Deus, em lágrimas, que não deixasse que esse tumor fosse maligno. Mas, depois de vários anos vivendo uma vida estressada tentando balancear minhas responsabilidades de mãe, estudante universitária e empregada, incluindo a falta de sono, as refeições que eu comia no carro - porque não havia tempo de ir para casa -, eu sabia que havia uma grande possibilidade de o meu corpo estar cobrando uma prestação de contas.

Iniciando a batalha

Quando descobriam que eu possivelmente tinha câncer, de repente TODO MUNDO se sentia uma autoridade no assunto. Uma tempestade de artigos e tratamentos começaram a vir de todos os lados. Foi bem nessa época que a Netflix estava mostrando artigos expondo a indústria farmacêutica e a indústria da carne. Medicina natural e veganismo estavam em alta aqui na Califórnia, e muita gente da minha família e alguns amigos começaram a me deixar amedrontada. Alguns diziam que se furasse o tumor com a agulha o câncer espalharia.

Na época, eu resolvi tentar o tratamento natural, sem fazer a biópsia, para ver se o tumor desapareceria. Fui para uma clínica de tratamento natural no Paraguai no fim do ano de 2017. Voltei para a Califórnia em janeiro de 2018 e continuei fazendo os tratamentos naturais. Em março eu fui para uma clínica de medicina natural no México. O tumor não havia diminuído. O médico pediu uns exames, e após avaliar os resultados, chamou-me no consultório e disse: “eu trabalho com tratamento natural o ano inteiro e já vi centenas de pacientes curarem câncer com tratamento natural, porém, eu posso te falar, com toda certeza, que você não vai conseguir curar esse câncer com medicina natural. Ele é muito agressivo e está avançado. Se você não fizer quimioterapia você vai viver, no máximo, mais uns três anos.”

Fui para o hotel onde estava hospedada e chorei muito.s

Revidando

Decidi, com a oposição da minha família, fazer uma biópsia para investigar o tipo de tumor que eu tinha. Dois dias depois do aniversário de 16 anos do meu filho, os resultados da biópsia chegaram. O médico disse-me que eu tinha um tumor maligno de um tipo agressivo e que eu deveria começar quimioterapia imediatamente. Fiz oito de dez sessões de quimioterapia e tive que parar, pois estava afetando meu coração. O tumor respondeu 50% à quimioterapia (só diminuiu a metade do que deveria), então os oncologistas decidiram remover o seio esquerdo completamente.

Tudo aconteceu muito rápido. Com um ano de graduação, eu estava careca e sem o seio esquerdo. Após a mastectomia, estava tão debilitada que ao subir as escadas (eu moro no segundo piso), eu ficava tremendo de fraqueza. Cheguei em casa após o médico remover os curativos e escondi-me no banheiro e chorei até soluçar.

Senti-me derrotada e com medo. Meu filho era muito jovem para perder a mãe, e lutei muito para poder proporcionar uma vida melhor para nós. Eu sempre fui muito forte e resiliente; nunca tive que parar para encarar a minha mortalidade e vulnerabilidade antes. Lembrei-me da parábola do homem que trabalhou muito e queria derrubar os celeiros de grão e fazer outros maiores, mas Deus disse: “tolo, essa noite te pedirão a tua vida” (Lucas 12:16-20). Eu não queria que todo meu esforço fosse para nada, mas foi exatamente depois que concluí que a vida está nas mãos de Deus, que Ele tem todas as respostas, e entreguei as rédeas do meu destino nas mãos dEle, encontrei paz.

Lembro-me nitidamente do dia que decidi lutar pela minha cura e pela minha vida. Olhei-me no espelho e vi um rosto pálido, uma cabeça sem cabelo, uma cicatriz e um peito sem mamilo com um corte horizontal no meio que parecia mais uma facada do que um procedimento cirúrgico. Olhei para esta imagem e pensei: só tenho duas escolhas: morrer ou viver. Eu sabia que minha atitude era fundamental para minha sobrevivência e teria que lutar com todas as minhas forças para sair dessa situação. Fiquei ali sonhando com os momentos felizes e tudo foi passando como um filme. Vi-me aplaudindo o Alexandre na sua graduação, imaginei o meu sorriso orgulhoso vendo-o no altar encontrando sua noiva, imaginei segurando um neto nos braços... Então, falei para mim mesma: eu quero viver e fazer parte desse “filme” e decidi que faria tudo que estivesse ao meu alcance para fazer parte dos momentos mais importantes da vida do meu filho. Naquele dia, no começo de novembro de 2018, decidi que iria lutar com todas as forças para obter minha vida de volta, e que se Deus não permitisse a minha cura, eu iria aceitar com resignação, mas que também se tivesse que enfrentar a morte prematuramente, seria capaz de olhar nos olhos do meu filho e dizer-lhe que fiz tudo o que pude. Minha mãe veio do Brasil para me ajudar e fazia sucos de verdura e frutas que ajudavam a me fortalecer e me davam mais energia.

Duas semanas depois da remoção do tumor, a oncologista chamou-me no consultório para falar sobre o estudo patológico do tumor e os resultados. Ela disse-me que, baseado no estado avançado do câncer e do tamanho do tumor, eu tinha entre 20-40% de chances de estar viva nos próximos cinco anos. Eu já havia decidido que ainda que eu passasse pelo vale da sombra da morte eu não temeria mal algum (Salmos 23:4). Ouvir que eu tinha 80% de chances de morrer nos próximos cinco anos não afetou minha atitude. Deus ensinou-me que se eu me preocupar até o ponto da loucura eu não vou aumentar nem uma hora da minha vida. Eu não estou no controle. Aprender que eu posso confiar nAquele que está em controle e me da paz.

Imagino que soa mal para muita gente ouvir que o câncer foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Mas, olhando para trás eu posso afirmar isso sem hesitação. Andar pelo vale da sombra da morte mostrou-me que não sou eterna, sou limitada. Eu não tenho tempo para perder com coisas frívolas e pessoas tóxicas. Aprendi que uma vida focada no que realmente importa é uma vida mais feliz. Hoje meu filho está com 18 anos e já trabalha e cuida de si mesmo. Eu não vivo mais com medo. Eu sei que Deus sabe de tudo e que Ele está comigo; tudo ficará bem. Nem a morte nem a vida pode me separar do Seu amor (Romanos 8:38-39). Já se passaram dois anos que retiraram o tumor e concluí os tratamentos. Estou mais forte do que nunca e vivendo a melhor fase da minha vida. Fui chamada para trabalhar para o governo da Califórnia e estou prestes a realizar o sonho de usar o meu diploma para ter uma vida melhor. Eu carrego comigo as cicatrizes das minhas batalhas, mas elas falam das minhas vitórias.

Uma palavra para minhas irmãs em batalha

  • Não demore para procurar ajuda;
  • Mantenha o foco em pessoas que sobreviveram, e em suas histórias. As mortes de alguns colegas de terapia me lembravam da seriedade do meu quadro, mas não me concentrava nos que perdiam a luta e punha o foco nas pessoas que venceram.
  • Faça planos para o futuro e invista em si mesma. Durante a quimioterapia, eu estava muito fraca para trabalhar mas tomei a oportunidade para aprender outro idioma. Aprender outra língua ajudou-me a sentir que eu estava fazendo algo produtivo e mandava para o meu subconsciente uma promessa ou investimento futuro, o que implicava que eu acreditava na minha sobrevivência.

Meu desejo é que ninguém passe por isso, mas se alguém chegar a passar, eu desejo que tal pessoa encontre paz e conforto no Deus que disse: “Eu conheço os planos que tenho para você, planos para te dar esperança e um futuro”(Jeremias 29:11). Ele ainda complementa: “não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça." (Isaías 41:10)

– Giorgiane Goulart

7 comentários em “Though I Walk Through the Valley – Breast Cancer Survivor Stories”

  1. Jeane Torres Paula Goulart

    Muito lindo! Graças a Deus você está viva e pode glorificá-lo em tudo que fizer! Este é o sentido de nossa existência – glorificar a Deus e ser útil ao nosso semelhante! Sou muito grata a Deus por ter alongado sua vida! Jeane Torres Paula Goulart- mãe da depoente.

  2. Eliseth Trindade de Almeida Martins

    Acompanhei a sua trajetória.
    As angústias da sua Mãe…
    Orei muito pela sua cura. Sei que o nosso DEUS, nunca nos abandonará.
    Me emocionei com o seu relato.
    Tenho certeza que ajudará muitas de nós que poderemos passar por tudo isso.
    Parabéns pela sua Vitória!

  3. Luciene Vigil

    Que linda experiência Gio ….
    te conheci ainda muito jovem na tua cidade natal lembra ??
    E sempre te acompanho a distância, soube da tua luta mas agora ler tua história tão detalhada assim foi impossível não deixar cair lágrimas dos olhos. Mas não lágrimas de tristeza e sim de alegria de saber que aquela menininha que conheci se transformou nessa mulher forte . Obrigada pelo teu testemunho tenho certeza que encorajara a muitas mulheres que estão passando por alguma dificuldade, não necessariamente um câncer mas qualquer luta. Um grande, forte e carinhoso abraço pra vc!!
    Luciene Vigil

  4. Leosina Goulart

    TENHO MUITO ORGULHO DE VOCÊ!
    TE AMO E VOCÊ SABE DISSO! EU TE DISSE QUE VOCÊ TERIA UMA EXPERIÊNCIA ÚNICA DE CAMINHADA COM DEUS,POIS A VIDA PASSA TER OUTRO FOCO QUANDO A GENTE NÃO TEM OUTRA AUTERNATIVA SE NÃO LUTAR CONTRA A MORTE! AÍNDA TEREMOS MUITA HISTÓRIA A ESCREVER NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS DA NOSSA EXPERIÊNCIA TERRESTRE!!! OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS SERÃO OS MELHORES,PODE ACREDITAR!!!

  5. Sheila Vonbergen

    Giorgiane,
    What an incredible story! A touching personal testimony of courage to trust God and fight for living a new life focused on gratitude and living for others. An inspiring message to value and nurture life, to be complete in Christ. Pain is never wasted when we give it to Him with a whole heart. I’m so thankful you have come out the other side and living your dream. Praying for you that God will continue use you to inspire others with your story!

  6. Débora Goulart

    Parabéns! Me orgulho de você, uma mulher independente, guerreira, maravilhosa mãe e acima de tudo de um bom coração. Essa não será só uma das suas vitórias realizadas, Deus tem guardado um futuro lindo para você. Te amo ?

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